10/09: DIA MUNDIAL DE PREVENÇÃO AO SUICÍDIO


Hoje é o dia mundial de combate ao suicídio, prática que infelizmente tem crescido nos últimos anos, principalmente entre os jovens. De acordo com a OMS, a taxa de suicídio aumentou 60% nos últimos 45 anos e até 2020 essa estimativa pode dobrar. Muito provavelmente você conhece alguém que já tenha tentado (ou conseguido) tirar a própria vida (ou talvez também já tenha pensado nisso). É um assunto sério, que nunca deve ser visto como uma brincadeira ou algo "só para chamar atenção" e precisa ser conversado e esclarecido entre nós.
O que vamos falar aqui hoje é sobre a importância de cuidar e não negligenciar os sinais de uma pessoa com ideação suicida. O primeiro ponto importante é entender que são muitos os fatores que podem levar uma pessoa a querer tirar a própria vida, como transtornos psicológicos (depressão, esquizofrenia, bipolaridade, ansiedade), uso excessivo de álcool e drogas, problemas sociodemográficos, entre outros. O fato é que, na maioria das vezes, a tentativa de suicídio é um pedido de socorro de uma pessoa que já não sabe mais lidar com algum problema específico, ou seja, geralmente a pessoa não quer morrer, ela apenas quer que um determinado problema acabe e não consegue enxergar mais nenhuma outra saída para isso.

Seguem abaixo alguns pontos importantes sobre o tema, retirado do Manual Dirigido a Profissionais das Equipes de Saúde Mental sobre Prevenção do Suicídio, com adaptações:

Existem três características próprias do estado em que se encontra a maioria das pessoas sob risco de suicídio: 

1. Ambivalência: é atitude interna característica das pessoas que pensam em ou que tentam o suicídio. Quase sempre querem ao mesmo tempo alcançar a morte, mas também viver. O predomínio do desejo de vida sobre o desejo de morte é o fator que possibilita a prevenção do suicídio. Muitas pessoas em risco de suicídio estão com problemas em suas vidas e ficam nesta luta interna entre os desejos de viver e de acabar com a dor psíquica. Se for dado apoio emocional e o desejo de viver aumentar, o risco de suicídio diminuirá. 

2. Impulsividade: o suicídio pode ser também um ato impulsivo. Como qualquer outro impulso, o impulso de cometer suicídio pode ser transitório e durar alguns minutos ou horas. Normalmente, é desencadeado por eventos negativos do dia-a-dia. Acalmando tal crise e ganhando tempo, o profissional da saúde pode ajudar a diminuir o risco suicida. 

3. Rigidez/constrição: o estado cognitivo de quem apresenta comportamento suicida é, geralmente, de constrição. A consciência da pessoa passa a funcionar de forma dicotômica: tudo ou nada. Os pensamentos, os sentimentos e as ações estão constritos, quer dizer, constantemente pensam sobre suicídio como única solução e não são capazes de perceber outras maneiras de sair do problema. Pensam de forma rígida e drástica: “O único caminho é a morte”; “Não há mais nada o que fazer”; “A única coisa que poderia fazer era me matar”. Análoga a esta condição é a “visão em túnel”, que representa o estreitamento das opções disponíveis de muitos indivíduos em vias de se matar.

A maioria das pessoas com idéias de morte comunica seus pensamentos e intenções suicidas. Elas, freqüentemente, dão sinais e fazem comentários sobre “querer morrer”, “sentimento de não valer pra nada”, e assim por diante. Todos esses pedidos de ajuda não podem ser ignorados. 

Fique atento às frases de alerta. Por trás delas estão os sentimentos de pessoas que podem estar pensando em suicídio. 

“Eu preferia estar morto”. 
“Eu não posso fazer nada”. 
“Eu não aguento mais”. 
“Eu sou um perdedor e um peso pros outros”. 
“Os outros vão ser mais felizes sem mim”. 

Idéias sobre suicídio que levam ao erro:
“Se eu perguntar sobre suicídio, poderei induzir o paciente a isso.” – Questionar sobre idéias de suicídio, fazendo-o de modo sensato e franco, aumenta o vínculo com o paciente. Este se sente acolhido por um profissional cuidadoso, que se interessa pela extensão de seu sofrimento. 

“Ele está ameaçando suicídio apenas para manipular.” – A ameaça de suicídio sempre deve ser levada a sério. Chegar a esse tipo de recurso indica que a pessoa está sofrendo e necessita de ajuda. 

“Quem quer se matar, se mata mesmo.” – Essa ideia pode conduzir ao imobilismo terapêutico, ou ao descuido no manejo das pessoas sob risco. Não se trata de evitar todos os suicídios, mas sim os que podem ser evitados. 

“Quem quer se matar não avisa.” – Pelo menos dois terços das pessoas que tentam ou que se matam haviam comunicado de alguma maneira sua intenção para amigos, familiares ou conhecidos.

“O suicídio é um ato de covardia (ou de coragem)”. – O que dirige a ação auto-inflingida é uma dor psíquica insuportável e não uma atitude de covardia ou coragem. 

“No lugar dele, eu também me mataria.” – Há sempre o risco de o profissional identificar-se profundamente com aspectos de desamparo, depressão e desesperança de seus pacientes, sentindo-se impotente para a tarefa assistencial. Há também o perigo de se valer de um julgamento pessoal subjetivo para decidir as ações que fará ou deixará de fazer.

Como lidar com uma pessoa com ideação suicida?

  1. O primeiro passo é achar um lugar adequado, onde uma conversa tranqüila possa ser mantida com privacidade razoável. 
  2. O próximo passo é reservar o tempo necessário. Pessoas com ideação suicida usualmente necessitam de mais tempo para deixar de se achar um fardo. É preciso também estar disponível emocionalmente para lhes dar atenção. 
  3. A tarefa mais importante é ouvi-las efetivamente. Conseguir esse contato e ouvir é por si só o maior passo para reduzir o nível de desespero suicida. O objetivo é preencher uma lacuna criada pela desconfiança, pelo desespero e pela perda de esperança e dar à pessoa a esperança de que as coisas podem mudar para melhor. 
  4. Uma abordagem calma, aberta, de aceitação e de não-julgamento é fundamental para facilitar a comunicação. Ouça com cordialidade. Trate com respeito. Empatia com as emoções. Cuidado com o sigilo. 
Como se comunicar:
  • Ouvir atentamente, com calma. 
  • Entender os sentimentos da pessoa (empatia). 
  • Dar mensagens não verbais de aceitação e respeito. 
  • Expressar respeito pelas opiniões e pelos valores da pessoa. 
  • Conversar honestamente e com autenticidade. 
  • Mostrar sua preocupação, seu cuidado e sua afeição. 
  • Focalizar nos sentimentos da pessoa. 
Como NÃO se comunicar:
  • Interromper muito freqüentemente. 
  • Ficar chocado ou muito emocionado. 
  • Dizer que você está ocupado. 
  • Fazer o problema parecer trivial. 
  • Tratar o paciente de uma maneira que possa colocá-lo numa posição de inferioridade. 
  • Dizer simplesmente que tudo vai ficar bem. 
  • Fazer perguntas indiscretas. 
  • Emitir julgamentos (certo x errado), tentar doutrinar.
Para quem quiser mais informações, o manual está disponível na internet, é só jogar no Google.

E, se você ainda não sabe como lidar ou não tem muita habilidade com isso, apenas não julgue, ouça a pessoa com empatia e oriente que ela busque assistência psicológica.

Além disso, criado há 50 anos com o objetivo de prevenir o suicídio, o Centro de Valorização da Vida – CVV,atualmente trabalha no apoio emocional a população em qualquer momento difícil, inclusive quando o suicídio parece ser a única opção. Hoje, cerca de 2 mil voluntários atendem 24h por dia, por meio do telefone 141, chat, VoIP ou pessoalmente nos 70 postos existentes no Brasil.

"Oh! Ensina-nos a aproveitar a vida! Ensina-nos a viver bem e sabiamente! Volta, ó Eterno: por quanto tempo teremos de esperar? Trata teus servos com bondade, Surpreende-nos com teu amor ao amanhecer, então saltaremos e dançaremos o dia todo." (Salmo 90:12:13)